Maracatu: de Pernambuco à cidade paulista dos crepúsculos maravilhosos
- Tamyres Sbrile
- 17 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Você já ouviu falar de maracatu? Sabe o que é? Maracatu é uma expressão cultural que une ritmo musical, dança e religiosidade, e que surgiu em Pernambuco, no século XIX. De origem africana, o maracatu se espalhou por estados brasileiros e chegou a São João da Boa Vista, por iniciativa da professora Juliana Evangelista (38).
Ela já fez parte de grupos de maracatu de Minas Gerais e São Paulo, mas em 2017, junto a uma amiga, teve a ideia de organizar o maracatu em São João. Elas conheciam pessoas na cidade que tinham instrumentos que estavam parados e que serviriam para o maracatu; fizeram os contatos e logo nasceu o Baque São João.
Juliana conta que o primeiro ensaio foi na casa de uma amiga, mas logo veio o convite de Marcos Paulo Pereira, o Marcão, mestre de capoeira, para ensaiarem no centro cultural Luiz Gama. Hoje, o Baque São João participa de acampamentos com outros grupos de maracatu, e em São João se apresenta em eventos escolares, feiras culturais e celebrações do dia da Consciência Negra.
A educadora Carolina Galego (38), que está do grupo desde sua criação, fala dos benefícios que o ritmo proporcionou à sua vida: “O maracatu me trouxe mais possibilidades rítmicas, antes de entrar pro Baque eu tocava samba e conhecia pouca coisa da cultura regional brasileira”.
Irmandades da igreja do Rosário
A história do maracatu tem ligações com as irmandades da igreja do Rosário, de homens negros, trazidos da África e escravizados, que se reuniam para celebrar sua cultura e fazer seus rituais. Nesses rituais, eram escolhidos um rei e uma rainha do Congo, representantes dos negros que manteriam contato com a elite da cidade, para conseguirem a autorização de seus donos e poder realizar os batuques. Diante da organização da manifestação cultural, membros da elite doavam roupas e adereços para os escravos usarem nas celebrações, e assim as rodas de maracatu ficaram coloridas e esvoaçantes.
De acordo com as religiões de matriz africana, personagens que representam entidades espirituais também fazem parte da manifestação cultural. A Calunga, protetora do grupo, é normalmente representada por uma figura feminina, mas pode ser simbolizada por um homem. Em Recife, no grupo Leão Coroado, a calunga é Dona Isabel; no Estrela de Recife é a Dona Juventina e a Dona Erundina.
De sons agudos, fortes e que vibram o coração, de tamanhos e cores diferentes, são vários os instrumentos utilizados pelo grupo, e produzidos por Juliana e pelos integrantes do Baque São João.
Embora o maracatu tenha forte influência das crenças afros, do catolicismo e do candomblé, Juliana explica que para fazer parte do grupo não precisa ser adepto de qualquer religião: “muitos participantes são de religiões diferentes e todos se respeitam”. Também não é necessário qualquer conhecimento de música ou de instrumentos musicais: “É só chegar com disposição”, convida Carolina.
Os contatos com o grupo também podem ser feitos pelas redes sociais. No facebook, o endereço é Baque São João. Os ensaios se realizam às sextas-feiras, a partir das 18h, na sede do Centro Cultural Luiz Gama, à rua General Osório, 482, São Lazaro, São João da Boa Vista.

Grupo Baque São João mais integrantes de SP se apresentando em Aguas da Prata

instrumentos utilizados pelos integrantes. Foto facebook
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