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Encontro de amigos e de ideias: conheça a Batalha da Quadra

Toda semana, MCs do bairro São José, em Poços de Caldas (MG) se reúnem para batalhas de rima

Batalha: substantivo feminino. Quer dizer combate entre forças oponentes. No mundo militar, pode ser realizada na terra, no ar, ou na água. No mundo do hip hop, as batalhas são de rima e os competidores duelam armados apenas de pensamento. Essas batalhas podem ser realizadas nas ruas, praças ou nas quadras, como é no bairro São José, em Poços de Caldas, Sul de Minas Gerais.

As batalhas de rimas são quase tão antigas quanto o próprio rap. Surgiram nos anos 1970, quando MCs se enfrentavam nas rinhas de freestyle, rimas em estilo livre, pelas ruas do Bronxs, berço do hip hop, em Nova York.

No Brasil, esses eventos foram oficializados em 2003, com o surgimento da Batalha do Real, no Rio de Janeiro. Desde então as competições se espalharam e ganharam cada vez mais popularidade por todos os cantos.

Em 2019, se consolida mais uma destas batalhas. Na cidade de Poços de Caldas, há competições que se realizam há algum tempo no centro da cidade e que serviram de inspiração para a (nova) Batalha da Quadra, que se realiza na quadra de esportes do bairro São José, graças à iniciativa de Vinícius Paiva dos Anjos, Tiago José, Wesley Rodrigues e Bruno Henrique.

“Uma vez eu estava sentado com um dos meus melhores amigos em um banco da quadra. Eu já rimava, ele ainda nem sabia o que era freestyle. Aí eu liguei o som, comecei a rimar, ele gostou e eu falei: se você aprender a rimar, a gente pode fazer uma batalha aqui. Tem muito MC aqui nessa área, a gente só não sabe ainda”. Foi nessa conversa, narrada por Vinícius, o MC Tio Lazo - ou TLZ, que a batalha teve seu primeiro sinal de vida, há dois anos.

A história continuou com outros amigos que se juntaram para conhecer e acabaram trocando experiências. Desde o começo de 2019, os encontros passaram a ser semanais, impreterivelmente.

“Esse ano eu decidi que queria fazer isso sério. Como eu trabalhava, eu guardei uma grana, fui e comprei a caixinha de som e os microfones. Foi a primeira caixinha da batalha e até hoje a gente usa ela. Isso também animou a galera, e cada dia mais foi surgindo gente que sabia rimar”, lembra Tio Lazo, que já conta uma lista grande dos participantes da batalha.

Poder da poesia

Para Vinícius os encontros deram certo graças à matéria prima poderosa que têm nas mãos. “É bom porque a gente traz a arte para o bairro. O rap é a poesia. Tudo o que eu tenho por dentro eu desconto na poesia. A gente bota o sentimento que a gente tem no peito para funcionar no papel”, relata o MC.

Os sons parecidos de cada verso da rima se juntam no improviso e juntaram também os jovens pelos ideais parecidos, para compartilhar o que têm em comum. “Tem muita gente aprendendo a rimar, muita gente se inspirando na gente que rima e muita gente querendo aprender”, pontua.

“Quando a gente está com o microfone na mão parece que a gente enxerga o mundo de outro jeito. Quando a gente vai falar as nossas palavras, quando a torcida grita para você, o clima muda, a vibe muda. Você mesmo muda, porque você se liberta ali”, detalha Vinícius sobre os poderes da rima.

Aprender e ensinar

Além de aprender com a emoção da prática e a ajuda dos amigos, Vinícius participa de um projeto cultural, o A-viva Cultura, que leva aulas de break e rap para crianças e jovens do bairro.

Com os arte educadores Gabriel Schultz, Bruno Henrique e Isabelle Bernardes, os jovens conhecem mais sobre a produção das músicas e, principalmente, discutem ideias. “A gente vai para debater sobre um assunto e chegar em respostas, poder aprender sobre aquilo. A gente aprende a se libertar. Lá eu estou buscando a minha liberdade de expressão”, explica TLZ.

De volta à quadra, é hora de dividir o que aprendeu com os outros amigos. “A gente viu que tem muita gente querendo aprender e agora, dia de quarta, a gente vai reunir para fazer um treino para estar ensinando a rimar, a batalhar. Porque, querendo ou não, batalhar é uma coisa que só quem batalha sabe dizer”, afirma Vinícius.

Os encontros seguem chamando atenção de MCs e moradores do bairro, com a pretensão de crescer mais e continuar fazendo que outros participem e ainda mais gente saiba, então, dizer como é batalhar cultura.

Batalha da Quadra reúne meninos e meninas no bairro São José, em Poços de Caldas

Vinícius Paiva dos Anjos, TLZ, deu início a Batalha da Quadra junto de grupo de amigos. CRÉDITO: Isabelle Bernardes

Vinícius também participa de projeto cultura de incetivo ao hip hop. CRÉDITO: Isabelle Bernardes


SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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