De caçador a artista autodidata
- Tamyres Sbrile
- 14 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Criativo passa os dias fazendo poemas e caminhando pelas matas de Águas da Prata
Luis Antônio de Oliveira, ou Liti Caçador, é artista de mão cheia. Transita pela escultura, pintura estilo naif e escrita de poemas e músicas. No entanto, seu apelido, que não foi dado à toa, revela que nem sempre foi assim. Desde criança, seguindo os passos do pai, foi nas matas e na companhia de seus cães, que ele passou boa parte da vida caçando.
Atualmente, ele se dedica a criar. Suas pinturas, no estilo naif (que são pinturas de artistas autodidatas sobre temas pessoais), refletem suas experiências e vivências. Feitas com tintas – segundo ele, qualquer uma, a que tiver a mão – e pincéis comuns, as artes ficam expostas em seu rancho, que está em construção e será sua futura casa e também seu ateliê, embora ele não faça questão alguma desse nome requintado. As portas e paredes, além de proteger a casa, servem de telas e embelezam a paisagem, com cores vivas e fortes.
Liti também é amante da escrita, poeta de mão cheia. Desde pequeno, tem paixão por livros e passa horas lendo, diz ele. Tomou gosto pela leitura e escrita e sempre que pode, se dedica a fazer poemas e compor músicas. Embora, possa ser considerado um multi-artista, já que exerce sua criatividade sob diversas formas, a comercialização não é seu objetivo: ele deixa claro que nunca irá vender sua arte. Liti acredita que esculpir, pintar e escrever são dons, e é contrário à comercialização dos frutos de um dom. “Meu filho já levou minhas esculturas pra expor no Centro Cultural Boca do Leão (Águas da Prata), mas eu não vendo, não. Prefiro desmanchar do que vender. Esse é meu dom e não pode se vender o dom”, reflete.
Esculturas
Feitas com ossos de vacas, de acordo com ele, apenas ossadas encontradas durante a caminhada: “Eu sempre achava os ossos, osso do que é sacrificado tem sentimento ruim, não é bom você lidar. Tem que ser de morte natural”, explica.
Criado seguindo os preceitos do pai, que também era caçador, Liti teve uma infância diferente se comparada à dos dias atuais. Cresceu na mata, cercado de cães e aventuras. De todos os irmãos, foi o único que seguiu o caminho do pai: “Meus irmãos tentaram ir nesse caminho também, mas não deu certo. Eles não têm o dom”.
Entre tantos aprendizados pela vida, o da caçada sobressaiu por um tempo. Ele caçava veados, capivaras, aves, pacas e tatus e sempre teve a seu lado seus companheiros, os cães de caça, cada um para um tipo de caça diferente, explica ele. Mas o tempo passou e hoje sua relação com os animais mudou: “eles são meus companheiros”. Liti ouve o canto dos pássaros nas árvores perto de sua casa, sem pretensão alguma de caçá-los, prefere vê-los soltos na natureza.
Histórias de caçador
Sua história de vida é repleta de aventuras. Ele conta que esteve perto da morte diversas vezes. “O rapaz me deu um tiro uma vez, a capivara tava dentro da água e eu entrei dentro da água e comecei a lutar com ela, veio um homem, já tava velho já, ele chegou no barranco e deu o tiro. O tiro pegou na (minha) barriga, passou de raspão pela camisa, mas não aconteceu nada”, conta o caçador-poeta, rindo com a lembrança.
As histórias vividas trouxeram aprendizados. Liti fala das experiências que adquiriu com a vida e com os companheiros de caça. “Certa vez, um dos caçadores mais velhos me ensinou que quando a presa estivesse prestes a morrer, o caçador que deu o tiro deveria olhar fixante nos olhos do animal para pegar todas as coisas boas dele. Destreza, olfato, sabedoria, conhecimento. A capivara tava pulando e eu fiquei firme olhando pra ela”, lembra.
Histórias e experiências não faltam numa prosa com Liti. Tem até história de disco voador e lobisomem. Ele conta que em uma noite de caça, com um companheiro, uma luz forte sobrevoou a cabeça dele. “Dava pra ver uma agulha no chão, de tanto que iluminou o pasto”. Outro momento marcante da conversa foi quando Liti relatou a aparição de lobisomens. O matuto jura de pé junto que já viu o bicho várias vezes pelas matas, diz ele que alguns até vivem aos arredores da cidade. “É um bicho grande, preto, normal. Os lobisomens sabem quando você sabe o segredo deles e é aí que tá o perigo”, alerta ele.
Liti Caçador é figura lendária que vale a pena conhecer. Para saber mais de suas histórias, basta acompanhá-lo no facebook (Liti Guerreiro Caçador).

Com cores vivas, pinturas de Liti representam sua história e vivencias pessoas

Esculturas são guardadas a sete chaves, para Liti, todas tem um significado especial

Na foto o cachorro Lobo e o cajado inseparáveis de Liti. Foto arquivo pessoal

Na foto o cachorro Lobo e o cajado inseparáveis de Liti. Foto arquivo pessoal

Com cores vivas, pinturas de Liti representam sua história e vivencias pessoas
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