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Com produção de baixo custo, zine é forma de divulgar a arte marginal

“Zine é utilizar a poesia e criatividade para preencher uma folha que está em branco”, classifica a zineira Stefanie Rodrigues

Antes, uma folha em branco. Alguns escritos depois e se transforma em uma peça de arte. Assim é o zine. Com uma produção que custa pouco, o livreto é forma de divulgar a produção de arte marginal. “É utilizar a criatividade para preencher uma folha que está em branco”, como classifica a zineira Stefanie Rodrigues.

O zine, ou fanzine, é a opção de publicação que passeia entre o livro, a revista e a literatura de cordel. Feito à mão e com características próprias, pode ser adaptado ao gosto do artista com ilustrações, cores e variedade de tamanho. Poderoso por ser acessível, no Brasil já foi, inclusive, forma de fugir da censura da Ditadura Militar, durante a década de 1970.

Stefanie, que é MC, rapper, cantora, compositora e intérprete, participa de slams e também faz zines. De acordo com a história que ela conta, quando a censura impedia o trabalho dos artistas, o zine deu origem à “geração mimeógrafo”, equipamento manual utilizado para fazer cópias, comum nos anos 1970 e parte de 1980.

“Nem todo artista que escreve tem a possibilidade de lançar um livro em uma editora, até porque isso é bem caro. Uma forma de fazer com que a poesia circule de forma acessível é através do zine”, explica a zineira.

Zine é trabalho

Apesar de ser uma peça simples, feita manualmente e de papel, o zine é um abrigo para a arte e há o apelo para que seja valorizado desta forma. “É valorizar enquanto trabalho. Muitas pessoas (por não ser um livro), não dão credibilidade. Acham que é só um papelzinho. Não é só um papelzinho. É a escrita do poeta que está ali, é a criatividade, é o trabalho também. É entender a arte enquanto trabalho”, destaca Rodrigues.

Se o zine é trabalho é, portanto, possibilidade de gerar renda, algo que nem sempre é tão simples para artistas independentes. Com o livreto, o autor é quem domina todo o processo de produção, da ideia à venda. Justamente por conhecer o valor do trabalho, o artista consegue estabelecer um preço justo com o público e com a arte.

“O zine é importante porque possibilita que um artista independente trabalhe com a sua arte de maneira mais acessível. E também para propagar a poesia e ver que é possível fazer dinheiro com a sua arte, viver dela também”, relata Rodrigues.

Público além da fronteira

“Apesar de ser uma forma popular de arte, nem por isso é sempre bem aceito por todos os públicos”, desabafa Stefanie. Ela é mineira, de Poços de Caldas (MG), e atualmente mora na capital de São Paulo. Foi depois de atravessar a fronteira que viu a arte deslanchar.

“É esquisito como se move a cultura em Poços. As pessoas não valorizam a poesia na cidade. É como se santo de casa não fizesse milagre. Em São Paulo tem mais possibilidades para vender o zine, é mais valorizado do que em Poços, a demanda é maior, tem mais pessoas e mais pessoas que se interessam por arte”, analisa a zineira.

Por que a arte?

Stefanie é autora de dois zines. O primeiro, escrito em 2018, se chama “Se Toca”. Com alusão às genitálias femininas na capa, a autora convida o público a tocar a si mesmo e embarcar em uma jornada de autoconhecimento.

Na segunda obra, chamada “Afrozine”, o conteúdo é poesia, axé e proteção. Nas páginas, a artista fala sobre a ancestralidade do povo preto. Apesar de temas diferentes, as obras têm algo em comum: serem espaço também para o desabafo da autora.

“O que me move a fazer arte é o fato de eu escrever a minha própria história, de eu escolher por mim e entender que a arte é como eu desabafo, mas também é o meu trabalho. É muito desmotivador ser artista em um país que ainda censura a arte. Mas é muito mais motivador ser uma artista preta e mostrar para os meus que existe outra possibilidade para a gente, não só de servidão, que a gente pode ser o que a gente quiser”, ressalta Rodrigues.

Para dar continuidade ao trabalho, a aposta é no poder que a poesia tem sobre as outras pessoas. “Muitas vezes as pessoas precisam de algo que as toque. E a poesia tem este papel, de atravessar o outro”, finaliza a zineira, sempre pronta para a próxima expressão de arte.

Além de escrever os livretos, Stefanie Rodrigues também é cantora e compositora

Stefanie Rodrigues é poeta e produtora independente de dois zines


SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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