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ALVO DE POLÊMICAS, FUSCÃO PRETO FOI FILMADO NO INTERIOR PAULISTA

  • Tamires Zinetti
  • 14 de out. de 2019
  • 4 min de leitura

Longa, estrelado por Xuxa Meneguel, foi relacionado ao pornochanchada e acusado de deixar 'imagem ruim' para as cidades

Chamada de década perdida, os anos 1980 ficaram marcados pelo aumento da desigualdade social, com altos índices de desemprego e crise econômica. O período pós-milagre econômico teve inflação tão alta e afetou diretamente o investimento do cinema nacional, que passou por declínio: não havia dinheiro para produzir e as pessoas não tinham dinheiro para ir aos cinemas.

Foi nesse contexto, de baixas verbas para produções cinematográficas, que foi filmado Fuscão Preto. Com trilha sonora de Almir Rogério, o filme, protagonizado por Xuxa e pelo próprio cantor, foi gravado no interior do estado de São Paulo, em Mogi Guaçu, Mogi Mirim e Espírito Santo do Pinhal.

O filme

O longa foi dirigido por Jeremias Moreira Filho, que também trabalhou em “Menino da Porteira”, de 1976, e “Mágoa do Boiadeiro”, de 1977 e ficou conhecido por dirigir filmes com essência sertaneja.

“Fuscão Preto” foi filmado em três cidades: Mogi Guaçu, que começava a se destacar na produção de cerâmicas; Mogi Mirim, cidade vizinha, seguia o mesmo caminho, e Espírito Santo do Pinhal, que tinha economia de base agrícola, voltada à produção cafeeira.

Valéria Aparecida Rocha Torres, professora da PUC de São Paulo, conta que a escolha da cidade de Espírito Santo do Pinhal foi estratégica. “O cenário do filme girava em torno de um canavial, e Pinhal, por ser produtora de café, foi uma das escolhidas, por conta dessa estrutura de cidade pequena”, explica.

O filme conta a história do prefeito Rui, que quer implantar no município uma usina de álcool e precisa que o fazendeiro Lucena venda suas terras para dar espaço aos canaviais. Lucena cria cavalos e não tem intenção e se desfazer de sua propriedade. O prefeito, então, se aproveita do noivado de seu filho Marcelo com Diana, filha de Lucena, e vê no casamento uma chance de mudar de ideia do fazendeiro. Mas o relacionamento entre Diana e Marcelo não era saudável. O rapaz mantinha um romance à parte e deixava claro que só estava se casando pelo interesse do pai.

Perto do noivado, surge na cidade um fusca preto, que começa a perseguir Diana. No decorrer da história, chega à cidade um domador de cavalos que passa a trabalhar na fazenda e também começa a se interessar por Diana.

A polêmica

Valéria conta que a cidade ficou dividida na aceitação do filme “A cidade (Pinhal), era muito elitizada e muito tradicional, por ser pequena e produtora de café. As pessoas desse grupo torceram o nariz nessa história, para eles não era glamour nenhum a presença do cinema nacional. Já outra parcela da população, que era mais simples achou um máximo a ideia da cidade ser cenário de filme. Eles faziam romaria na porta do hotel para tirar uma foto da Xuxa, que entre todos era a mais conhecida”.

Segundo a professora, a elite argumentava que o filme era brega, que a cidade se sentiria desqualificada e que a produção não era motivo de glamour, porque, como quase não havia investimento no cinema brasileiro o filme seria considerado de segunda categoria, além disso, era uma produção relacionada ao pornochanchada.

Ela explica que outros argumentos contrários ao filme foram apresentados por pessoas que não aprovavam a filmagem na cidade: "A música no estilo brega e que já tinha até saído das paradas de sucesso e o outro, pela Xuxa ser famosa, porém duvidosa na época, não pelo caráter dela, duvidosa no sentido de ser modelo namorando um jogador de futebol, o Pelé e querendo criar fama em cima", conta a professora.

Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som – MIS, o diretor do filme, Jeremias Moreira Filho, conta que dois fatores contribuíram para a baixa bilheteria. “A forma como foi lançado e o fato da Xuxa no elenco. A presença dela atrapalhou um pouco a bilheteria, o público conservador tinha um preconceito muito grande, porque ela era a modelo que saiu na Playboy, e também porque o lançamento nos cinemas veio após um ano do lançamento da música”, conta.

A música

A música foi composta por Mariel e Atilio Versutti, em 1974. Na época, os compositores trabalhavam como pintores em um prédio, próximo à praça principal da cidade de Serra Negra, interior de São Paulo. No alto do prédio, eles observavam que, quase rotineiramente, um fusca com placa de outra cidade parava ali perto e uma mulher – presumiam que era casada –, entrava no carro; o casal saia para um passeio, o que era provavelmente uma traição.

Essa história deu origem à letra foi apresentada no programa de televisão Domingo Show, comandado por Geraldo Luís, na TV Record. No entanto, a letra levava os créditos de Jeca Mineiro e Atilio Versutti. De acordo com registros históricos, Mariel teria cedido os direitos autorais da música para Jeca, em troca de algumas promessas, que não foram cumpridas.

A composição ficou famosa e teve inúmeras regravações por duplas sertanejas, como pelas Irmãs Castro e Trio Arizona. Mas foi em 1981, na voz de Almir Rogério, que estourou nas rádios. Almir era conhecido por ser um cantor romântico, diferente do estilo da música e decidiu apostar nela em seu repertório, vendeu mais de 700 mil cópias e inspirou a criação do filme.

Xuxa e Almir Rogério

Xuxa no fuscão preto


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Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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