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Uma conversa sobre política com João Acaiabe, o Tio Barnabé

Além do debate sobre o momento atual do país, Acaiabe fala da participação do jovem na política e seu papel nas manifestações artísticas

O ator João Batista Acaiabe nasceu no interior de São Paulo, em Espírito Santo do Pinhal, em maio de 1944. Construiu uma carreira diversificada: já trabalhou no teatro, cinema e televisão. Nosso eterno Tio Barnabé, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, é também conhecido pelas novas gerações por ter interpretado o cozinheiro Chico, no remake de Chiquititas, entre 2013 e 2015. Aos 75 anos e 46 de carreira, o ator retornou à TV Globo como Pai Didico, em Segundo Sol, novela das 21h, escrita por João Emanuel Carneiro.

Acaiabe conversou com a reportagem do Pindorama para falar sobre casos de censura, como o fechamento do Queermuseu, em Porto Alegre; o momento atual político de um país polarizado, o crescimento da extrema-direita e o papel do artista na sociedade em tempos difíceis.


João Acaiabe demonstra preocupação com o rumo da política brasileira Fonte: Reprodução: Internet

Pindorama: nos últimos anos, tivemos casos de museus fechados e peças de teatro canceladas, o que você pensa dessa censura?

João Acaiabe: A censura sempre é um problema, né? Ela não faz sentido, proibições e museus sendo fechados... Pessoas ficam constantemente julgando outras pessoas e as cerceando a criatividade alheia. A criação não pode ser cerceada, jamais deve ser censurada.


Pindorama: com a censura, é difícil ser um artista hoje?

João Acaiabe: O artista tem que estar sempre um passo à frente. A censura cria muito problema, mas hoje não é difícil ser artista. Temos que enfrentar problemas e obstáculos, é o nosso dever. Já estive em situações, na época da ditadura militar, em que passávamos por censura.


Pindorama: você pode contar alguma situação em que foi censurado?

João Acaiabe: Tínhamos que entregar o texto da peça para um militar ou alguém nomeado por eles, ele lia a peça e cortava o que queria e o que não considerava adequado. Depois, a gente tinha que buscar o censor na casa dele, levá-lo para o teatro pois era hora da censura visual. Uma semana antes da estreia apresentávamos a peça apenas para o fiscal, ele assistia e o que não concordasse era cortado e tínhamos que escrever de novo, era uma coisa impressionante. Uma violência.


“A sociedade precisa se conscientizar e não deixar o passado político do país se repetir”, afirma Acaiabe Fonte: Reprodução: Internet

Pindorama: a classe artística brasileira tem resistido às repressões políticas que aconteceram no país. Faz sentido censurar esses artistas no palco onde é o espaço de expressão deles?

João Acaiabe: O palco é o espaço onde o artista pode se expressar, então não há sentido em censurá-lo. Dentro de sua casa, você pode controlar a televisão, por exemplo, mas ao teatro, só vai quem quer, não há sentido algum você querer censurar um trabalho. Sou completamente contra esse tipo de censura, sempre fui. Trabalhei bastante para conscientizar as pessoas neste momento político brasileiro, pois vivi 1964, tinha pouco mais de 20 anos, estive aqui até a anistia e presenciei a retomada da democracia. Logo após, vi a eleição de Fernando Collor e aconteceu tudo aquilo e fiquei ainda mais atento. Os primeiros a serem perseguidos são os artistas, começam por eles e vão derivando para outras áreas.


Pindorama: nessas eleições houve grande participação dos jovens na política. O que você acha dessa participação?

João Acaiabe: É de suma importância a participação da juventude na democracia. Não deixar acontecer tudo igual ao passado, estamos caminhando para algo muito complicado, é um momento histórico extremamente delicado. Não sabemos o que vai acontecer, já vi tudo isso acontecer e fico preocupado com os rumos da nação hoje, mais preocupado ainda do que no passado, pois agora, estou mais ciente do que pode acontecer.


Pindorama: e por último, qual é o papel dos artistas no momento político pelo qual o Brasil passa?

João Acaiabe: A essa altura do campeonato, os artistas de um modo geral já estão presentes. Caetano dá depoimentos constantemente, atrizes e atores da TV como Letícia Colin e Débora Bloch. Todos se posicionando bastante, isso é muito importante. Claro que tem artistas que pensam o contrário, mas é uma minoria.


SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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