Contadores de histórias
- Luís Claudio Caldas
- 26 de fev. de 2019
- 4 min de leitura
Escritores da região mostram o seu trabalho com as letras
Dedicação, pesquisa, horas de concentração e meses de trabalho para que uma ideia, uma história ganhe forma, as páginas e as prateleiras das livrarias. Assim se resume o trabalho de um escritor. O sul de Minas e o leste paulista desponta como uma região que revela grandes nomes da literatura nacional.
Entre os experientes em criar ou contar histórias diversas está o escritor e historiador andradense Sebastião Roberto de Campos, que já publicou quatro livros. Campos conta que no lançamento do seu livro Solidão (1964) ouviu algo curioso sobre o seu trabalho que acabava de publicar. “Você é tão novo e já está sentindo solidão”, mas diz ele que queria dizer “se tivesse solidão”.



No começo de sua vida como escritor, Campos vendia sua obra pelas ruas de Campinas e conta de uma situação cômica que passou: “Lembro que cheguei num bar, estavam alguns amigos e disseram – você veio vender livro aqui? Nós gostamos é de vinho, porque você não trouxe vinho de Andradas?”. Ele revela que nunca escreveu visando lucro. “Tendo o tema no pensamento é o caminho que você vai seguir”, diz o autor sobre como começar a escrever um livro.
Entre livros da sua prateleira, ele mostra a importância e o potencial dos escritores de Andradas, como o falecido irmão Constante Campos, que publicou duas obras de poesia.
Nilza Alves de Pontes Marques soube como nenhum outro escritor andradense retratar Andradas e sua trajetória. Publicou seu primeiro livro, Caminhando de Samambaia a Andradas (1996), reunindo documentos antigos de seu pai que contam a história da fundação da cidade do sul de Minas. Em Os Imigrantes na Construção de Andradas (1995), que demorou quatro anos para ficar pronto, foi de casa em casa das famílias de descentes de italianos. “Muitos lugares eu levava a informação, porque não tinham, e daí que eles (descentes) começaram a pesquisar, por isso que hoje tem Circolo Italiano. Foi a partir deste início, deste pontapé que eu dei”, revela Marques. Para a autora, o importante foi resgatar as histórias da sua cidade. “Valeu a pena, porque história da cidade não existia antes do material (Caminhando de Samambaia a Andradas)”.
Com o Grupo das Quatros, idealizado por ela e por três amigas escritoras, descobre talentos, tanto na literatura, como na música, se reunindo na cozinha de sua casa. Por causa de um glaucoma em um dos olhos, não pode escrever no computador os seus textos, e precisou da ajuda de sua neta, para digitar seus manuscritos. Mesmo assim, persiste na sua carreira de escritora e continua produzindo. Atualmente, está escrevendo três livros, um deles, sobre sua família, para ser lançado daqui há 50 anos, como diz ela. “A gente escreve porque gosta. Eu gosto de ficar voando, o voar é muito bom”, conclui.

Literatura Infantil
A Professora Marivalda Quiarato apostou numa história infantil para lançar seu primeiro livro, Tatá e Teteca
(2018), que antes de virar uma publicação era uma peça teatral da autora. O envolvimento com o universo das crianças foi fundamental e motivador para que ela levasse o projeto adiante. “Você aprende a olhar o que a criança olha e a atender o que a criança quer e o que é melhor para ela, porque o público infantil é um público que eu conheço, conheço seus anseios, por isso dediquei esta primeira obra a ele”, explica Quiarato. O livro que conta a história da amizade de duas meninas com personalidades bem diferentes e traz uma mensagem de respeito e tolerância com as diferenças.
Para Quiarato, escrever para o público infantil é desafiador. “Todo autor que escreve para crianças deve lembrar primeiro que já foi criança, lembrar como a gente era, fazia, gostava e tudo que uma criança de hoje gosta, o que ela anseia e deseja e buscar no que ela gosta as suas obras literárias. Pensar na idade, quais são os sentimentos da criança, como ela vive, a partir daí criar suas histórias”, ressalta a autora.
O Mestrado que Virou Livro
Jussara Marrichi nunca teve pretensões de lançar um livro, mas de uma dissertação de mestrado sairia uma obra que viraria referência sobre termalismo em cursos de turismo pelo Brasil. Para Marrichi, foi desafiador desenvolver o tema. “Ninguém escrevia sobre termalismo, ninguém falava, eu não tinha referência atual. Depois que virou livro todo mundo quis saber sobre termalismo” revela.


A Cidade Termal (2015) conta a história do poder de cura das águas termais de Poços de Caldas, e como isso foi determinante para o desenvolvimento da cidade. “Foi um trabalho muito árduo, porque primeiro você tem lê muito, depois precisa fazer uma seleção, ter uma cronologia dentro da sua base de pesquisa, pensar e analisar os resultados, sentar e escrever uma história”, explica a autora. O livro foi um sucesso em seu lançamento, superando as expectativas da editora e foi considerado um recorde de vendas no lançamento, 140 exemplares num dia.
Academia de Letras
Uma Academia de Letras tem como missão guardar e preservar as obras e seus autores, assim como a memória referente à literatura. A Academia de Letras de São João da Boa Vista é um desses guardiões de nossa literatura regional e brasileira.

Fundada em 9 de setembro de 1971, a Academia que conta com 45 membros efetivos, 6 membros honorários e 45 membros correspondentes e nasceu com o propósito de proporcionar aos escritores sanjoanenses e da região um espaço para se encontrarem, discutir, fomentar e partilhar assuntos ligados à língua portuguesa e a literatura, além de preservar e divulgar a memória da produção local. Para o professor universitário e atual presidente da Academia de Letras de São João da Boa Vista, Antônio Carlos Rodrigues Lorette, a Academia proporciona a esperança no livro, cujo o slogan prevê justamente tal virtude “Os livros governam o mundo!”.

A Academia de Letras foi declarada de utilidade pública pela lei estadual Nº 3.041 de 19 de outubro de 1981 e pela lei municipal nº 112 de 11 de setembro de 1975. Anualmente organiza eventos de fomento à literatura na cidade paulista, como o concurso literário com premiação nas categorias prosa e poesia e o “Redação na Escola”, com alunos do ensino fundamental e médio de São João da Boa Vista.
Lorette fala das muitas dificuldades de se publicar um livro no interior e que isso prejudica a produção de novas obras literárias: “Com a crise financeira atual, está cada vez mais difícil de produzir obras, publicações. Eu vejo poucas pessoas publicando livros. Talvez a falta de incentivo seja devido ao alto custo de produção para pouca procura, ou compra, e a substituição destas leituras por meio eletrônico”.

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