Centro Cultural Afro-brasileiro Chico Rei
- Laila Muniz Malaquias
- 26 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Em novembro de 1963, nascia em Poços de Caldas, idealizado por Mário Benedito Costa, o Chico Rei Clube, que hoje tem o nome de Centro Cultural Afro-brasileiro Chico Rei (C.C.A.B). Há 55 anos, a instituição realiza atividades na comunidade poços-caldense com o objetivo de disseminar o conhecimento das culturas africana e afro-brasileira. Lúcia Vera Lima, atual presidente do Chico Rei, conta a trajetória do centro, projetos atuais e ideias para o futuro.

PINDORAMA: Quais são os projetos que o C.C.A.B. Chico Rei desenvolve atualmente?
Lúcia: Atualmente, o centro desenvolve em escolas públicas e privadas, faculdades, Programa Municipal da Juventude (PMJ), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), asilos e na sede quando solicitado, atividades que visam resgatar e resignificar a cultura afro em todos os aspectos: social, cultural e político. Temos o Coletivo de

Mulheres Dandara, um espaço onde buscamos abordar questões específicas da mulher e menina negra, sem universalizar o feminismo. Lembrando que o racismo em nosso país é estrutural, inserido de forma sistêmica em todas as camadas sociais, por isso nossos diálogos e ações precisam ser voltados a mudar as estruturas; precisamos resignificar as pautas feministas para que se tornem mais acolhedoras com as mulheres negras, para além do discurso somente. Atualmente, o Coletivo Dandara é chamado para rodas de conversas, intervenções, para que possamos expor nossas vivências, com o nosso olhar, pois temos voz, mas precisamos de escuta. Mais recentemente foi formado o Coletivo Negro de Poços de Caldas, que é mais um braço do Chico Rei para diálogo e proposições das demandas inerentes ao povo negro. Emprestamos, em parceria, a nossa sede para que outras atividades sejam feitas, como oficinas de teatro, aulas de capoeira, aulas de Hip Hop etc.

PINDORAMA: Qual é a equipe atual do centro?
Lúcia: A equipe é formada por uma diretoria de 13 voluntários, e por este motivo há a dificuldade de serem atuantes. Também temos pessoas que participam de variadas formas para que possamos continuar a manter a instituição ativa.
PINDORAMA: O que vocês planejam para o futuro?
Lúcia: Ser um ponto de cultura, onde enalteceremos, das mais diversas formas, a cultura afro. Dentro desta vontade penso que estabeleceremos um local de luta e resistência em Poços de Caldas, o que já somos, pois somos a única instituição deste segmento na cidade, referência quando se fala sobre a comunidade negra. Queremos também reforçar o trabalho que desenvolvemos com a Educação, implementando a Lei 10639/03, pois sentimos ainda muito enfraquecida a sua aplicabilidade nas escolas.
PINDORAMA: Qual é a importância de um centro como o C.C.A.B. Chico Rei em uma cidade como Poços?
Lúcia: Poços de Caldas é uma cidade extremamente conservadora, sabendo que o racismo e o preconceito permeiam nossa sociedade de forma contundente e excludente, nosso papel se torna importantíssimo. Buscamos ser voz para aqueles que de maneira ainda muito brutal sofrem na pele a segregação, de um povo historicamente inferiorizado, mas, que traz nas suas marcas o desenvolvimento deste país. De maneira geral não somos educadas (os) a nos respeitar como nação plural e multicultural, por isso, é importante somar esforços no sentido de ampliar o olhar para além do “negro escravo”, e reconhecer e respeitar o valor dos afros descendentes, que hoje estão aí na religião, na política, nas artes cênicas, na ciência, na medicina, nos jornais, na literatura... Por isso o Chico Rei é um espaço de muita resistência até hoje em nossa cidade, com suas histórias e que certamente já deixou – e continua trabalhando – para que cada vez mais seu legado esteja presente na vida da comunidade negra de Poços de Caldas.

QUEM FOI CHICO REI?
Chico Rei é uma personagem lendária de histórias orais mineiras desde o século 18. Galanga, rei do país africano Congo na época, foi capturado com a família por portugueses e trazido para o Brasil para ser vendido como escravo. A esposa e a filha foram jogadas ao mar, o acompanhou apenas Muzinga, o filho. Já no Rio de Janeiro, em 1740, foi rebatizado como Francisco e foi enviado, com Muzinga, para trabalhar na Mina da Encardideira, em Vila Rica (atual Ouro Preto, MG). Após anos de trabalho, conseguiu comprar a própria liberdade, a do filho e a de outros escravos também. Com o passar do tempo, comprou a Mina Encardideira, que passou a chamar Mina do Chico Rei (é possível visitá-la em Ouro Preto). Chico Rei construiu a Igreja de Santa Efigênia e os negros passaram a poder ser enterrados em uma igreja. Seria ele o responsável por introduzir o Congado em Minas Gerais. Galanga morreu de hepatite aos 72 anos.

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