Mulheres no RAP
- Bruna Souza
- 7 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Nascido no Bronx, bairro de Nova Iorque, na década de 1970, o Hip Hop foi criado por latino-americanos como forma de movimento cultural.
Cerca de dez anos depois, o Hip Hop chegou ao Brasil e reúne grupos artísticos como RAP (rythm and poetry ou ritmo e poesia), união da discotagem dos Djs (discjockeys), as rimas dos MCs (mestre de cerimônias), o break (dança) e o grafite.
Nas capitais e cidades do interior, acontecem as Batalhas de RAP. MCs de diversos lugares se juntam ao som de músicas ou beatbox (sons de batidas produzidos com a voz) e duelam com rimas por meio do improviso.
Mesmo criado para homens e mulheres, no movimento, a participação masculina sempre prevaleceu. Porém esse quadro tem mudado e as mulheres têm buscado ocupar cada vez mais espaço dentro dessa cultura.
Aline Costa é participante das Batalhas do Plaza, eventos que se realizam na pista Skate Plaza ou na Praça Joaquim José, no centro de São João da Boa Vista, SP. Ela conta que os incentivos dos amigos a fizeram perder o medo de participar. “Eu já fui plateia também, com aquela vontade interna de rimar. Quando eu comecei, foi com um empurrão de um amigo meu. Depois que eu rimei, percebi que era boa nisso, que gostava. Agora faço isso até hoje, um ano batalhando”.
Determinação
Stefanie Rodrigues já participou de batalhas no interior e nas capitais. Conta que começou a procurar o trabalho de mulheres no RAP para se espelhar e entrar nesse meio. Hoje, além de gravar músicas, o RAP para ela é uma forma de incentivar outras mulheres a buscarem seu espaço na sociedade. “Eu comecei a me inserir, porque estava cansada de ouvir rimas misóginas, homofóbicas e machistas, isso me causava incômodo. Então fui me preparando não só para batalhar com outro MC, mas para lidar com meu medo e também incentivar outras mulheres a se expressarem, porque se uma mina estiver lá, vai dar força para outras terem coragem de participar também”.

Ana Paula Anunciação é a única mulher no grupo de organização das batalhas em Poços de Caldas, MG. Conta que para as batalhas se realizarem é preciso muito trabalho: “Fazemos reuniões, programamos a arte para divulgação, temos até um edital de cultura. Nas últimas edições, por exemplo, vieram MCs de outras cidades. O movimento está crescendo bastante”.
RAP como força e representatividade
A essência do RAP é a crítica social, mas o movimento dá espaço para que outros assuntos possam ser abordados, tanto na improvisação das rimas, quanto nas composições de músicas. E há quem use disso para transmitir mensagens positivas e de reflexão para quem as escuta.
Além de organizadora, Ana Paula faz parte de um grupo formado por quatro mulheres que buscam incentivar outras por meio da música: “O Lírica Abstrata é um grupo de RAP criado em outubro do ano passado. A gente faz shows e as letras são escritas por nós mesmas. Nosso intuito é passar uma mensagem que toque as mulheres e que elas se sintam representadas. É mostrar a realidade. A gente não tem a concepção de RAP vazio. Nós abordamos vários temas, seja na questão da mulher, no lugar que ela ocupa na sociedade, seja na questão política, ou sobre a violência contra a mulher. E a gente percebe que em muitos shows as mulheres se sentem representadas. Esse é o nosso objetivo.”

Preconceito
Stefanie diz já ter sofrido preconceito por ser mulher e fazer RAP, mas isso não a fez desistir. “O nosso conhecimento sempre é questionado.” Para ela, ainda há muito a ser feito, mas a iniciativa de cada uma pode contribuir para dar voz a todas. “Uma das batalhas em que eu me senti inteiramente acolhida foi na batalha Dominação, em SP, onde eu vi o RAP feito por mulheres, para as mulheres. Foi uma experiência incrível...”
Lugar de direito
Leonardo Pereira dos Santos, conhecido como Leopac, além de participar como jurado das batalhas em Poços de Caldas, também faz parte do Estúdio Lab 3, que contribuiu na gravação das músicas do grupo Lírica Abstrata. Para ele, a participação feminina no movimento é direito de todas. “Acho que nem é a questão de dar espaço, o espaço já é das mulheres desde o surgimento do Hip Hop lá na América, mas devido a cultura machista, ficou meio que uma incógnita de que não era pra elas. Todos os grandes MCs, DJs foram criados por grandes mulheres, por isso não podemos admitir essa subtração delas dentro da cultura.”
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