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Cão Maior

  • Laila Muniz Malaquias
  • 7 de nov. de 2018
  • 3 min de leitura

Curta retrata violência sexual dentro de casa, abrindo espaço para diálogo sobre o problema

Cão Maior (2018) é um curta-metragem dirigido por Marcelo Leme e adaptado do conto homônimo de Alessandro Thomé, que aborda o abuso sexual infantil. Cão Maior é uma constelação cuja estrela mais brilhante se chama Sirius. O conjunto de estrelas leva esse nome pois a disposição delas lembra um cachorro, e Sirius fica no pescoço do cachorro.


A atriz Fernanda Novaes em cena de Cão Maior (2018) Foto: Divulgação

O filme é narrado pela protagonista, uma adolescente vítima da violência sexual e consequentemente psicológica, que, sem apoio ou amor dentro de casa, busca refúgio e conforto em sua paixão: as estrelas. Ela foi ensinada desde muito nova pelo pai (que, durante o filme, descobrimos que é também seu agressor) a olhar para as estrelas para esquecer tudo o que ela vive de ruim. O que, claramente, não é o bastante para a menina.


A “família” (substantivo que coloco aqui entre aspas, pois é sinônimo de segurança e carinho) é composta apenas pelo pai e a filha. A adolescente é obrigada pelo pai a se prostituir para levar dinheiro para casa. O que leva a figura paterna ao caos da situação atual (sem dinheiro, lidando com a própria filha de maneira abusiva) não é mencionado na narrativa, deixando para a imaginação do espectador todas as causas de um problema social gravíssimo e as possibilidades de caminhos que levam a este problema, que é mais comum do que a maioria de nós imagina. Segundo boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em junho deste ano, foram notificados 184.524 casos de violência sexual, sendo 58.037 contra crianças e 83.068 contra adolescentes, entre 2011 e 2017. Os dados também mostram que a maioria das ocorrências, tanto com crianças quanto com adolescentes, aconteceram dentro de casa, e os agressores são pessoas do convívio das vítimas, geralmente familiares.


Enxergar a causa é crucial para saber tratar o problema. O Estado é negligente? De acordo com Itamar Gonçalves, da ONG Childhood Brasil, em entrevista para Tatiana Regadas em matéria veiculada pelo Portal G1 em junho deste ano, faltam ações de prevenção a violência deste tipo no Brasil. “Um trabalho de prevenção se faz com informação, especialmente sobre o funcionamento do corpo, a construção da sexualidade, visando empoderar nossas crianças". O estudo também mostra que os principais autores de violência sexual, tanto contra crianças, quanto contra adolescentes, são homens. A cultura do machismo também é responsável por isso, como mostra a análise do boletim do Ministério da Saúde: “os indivíduos do sexo masculino foram apontados como os principais autores das violências sexuais contra crianças e adolescentes. Diante disso, faz-se necessário problematizar essa situação, considerando que esse maior envolvimento como perpetradores das violências sexuais contra estes grupos pode ser reflexo da afirmação de uma identidade masculina hegemônica, marcada pelo uso da força, provas de virilidade e exercício de poder sobre outros corpos. Dessa forma, é relevante a promoção de novas formas de masculinidades que superem esse padrão e permitam a manifestação de diversas identidades possíveis.”


Apesar de o curta abordar dois temas complexos – abuso sexual e prostituição infantil – numa linguagem com um quê de poesia, o filme traz uma discussão que ainda é tabu e possibilita o diálogo sobre essas realidades. “Espero que o filme encontre pessoas, e que elas possam ir atrás de justiça ou pedir ajuda”, comenta Marcelo.

Marcelo Leme, diretor do curta Foto: Divulgação

A obra de 11 minutos foi produzida em Poços de Caldas de maneira independente: “encontrei duas pessoas, Lígia Maria e Lalo Almeida, que fizeram a fotografia e colaboraram com a arte; Jivago Achkar me presenteou com a trilha sonora, então fomos encontrando as pessoas, tirando do nosso próprio bolso, gasolina, figurino...”, conta Marcelo. Mesmo com os desafios, havia vontade de fazer acontecer. O filme estreou na edição de 2018 da Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas (Flipoços) em uma mesa sobre informação contra abuso sexual, e já foi selecionado para diversas mostras de cinema nacionais e internacionais.


“Cão Maior” estará disponível online em 2019. Acompanhe as novidades no Instagram do curta: www.instagram.com/caomaior_filme/. Vale a pena conferir.


Sobre Marcelo


Psicólogo por formação, Marcelo, 31, é apaixonado por cinema. Teve o primeiro contato com a sétima arte aos seis anos, dentro da locadora dos tios. Desde então, busca aprofundar seu conhecimento na área por meio de cursos. Já fez cobertura de festivais de cinema no Brasil e escreve críticas; dirigiu dois curtas: "Coreto - Memórias e Saudades" e "Cão Maior". Atualmente, está dirigindo “O Sereno Imortal” e “O Abismo dos Pássaros”. Todos foram e estão sendo gravados em Poços de Caldas, MG.


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SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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