A Força da Peruca
- Luiz Gustavo Ribeiro
- 29 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
“Qualquer um que saia às ruas com um par de saltos alto nos pés e maquiagem no rosto é meu herói.” -RuPaul
Drag surgiu em Shakespeare como uma sigla. Dressed as a girl. Vestido como uma mulher, em tradução literal. Para uma concepção que nasceu de uma época em que mulheres não podiam contracenar e os homens se apresentavam até nos papéis femininos, as drags ironicamente se transformaram em um símbolo de inclusão e expressão artística sem limites. De Shakespeare para 2017, o conceito de estética e gênero foi transformado, rev

irado e questionado tantas vezes que ainda atualmente nos pegamos descobrindo diferentes tipos de beleza a cada dia.
Uma drag queen careca que costuma usar roupas que não desenham uma silhueta feminina, cuja marca visual é uma monocelha inspirada em Frida Kahlo e no vampiro Nosferatu. Pode-se perceber logo de cara que sua intenção não é se parecer como uma mulher. Todas as suas produções parecem ter saído de um museu de arte moderna. Todas as suas performances têm uma mensagem que vai além da sincronia labial de uma música pop.
Alexander Hedges Steinberg, mais conhecida como Sasha Velour, é a campeã da nona temporada do reality show RuPaul's Drag Race. Desde a sua estreia na TV em 2009, o programa coroa ano a ano a "Próxima Superestrela Drag Americana". A produção sempre escolhe um elenco que impressiona, com drags cujo talento criativo transcende nossa noção de beleza. Esse ano, a vencedora parece ir além até da concepção estética do próprio mundo drag. Apenas parece.
A verdade é que se parecer como uma mulher nunca foi uma premissa drag. Desde os anos 70, as lendárias Club Kids, artistas da cena LGBT periférica dos grandes centros americanos, em especial de Nova Iorque, já questionavam gênero em suas montações. A premissa dessa arte na verdade é a quebra do conceito de masculino e feminino.
Sasha Veluor, as Club Kids e muitas outras drags não se montam para serem mulheres, se montam para serem elas mesmas. Elas fazem de seus corpos uma externalização de sua arte e de sua expressão.
O que as drags nos fazem perceber é que não importa o que se veste, importa o que se é. Importa o que se sente. Qualquer forma, qualquer tamanho, qualquer cor. Se é o que se é. Se é o que se quer ser. Seja homem, mulher, feminino ou masculino. O mundo drag nos abre os olhos a uma liberdade de expressão que vai além de se usar maquiagem. É uma explosão de si.
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