APARENTEMENTE DIFERENTE
- Gustavo Oliva
- 24 de nov. de 2016
- 2 min de leitura

Pães, bolos, massas estico e de padeiro trabalho, doutor. João e Maria são vizinhos de minha padaria. Compra pão todo dia João e comia toda manhã Maria. Aparentam sempre ser boa família. João é vendedor, renomado, ganha bem. Maria vende joias, posuda e nariz empinado. Disseram-me que tinha um filho, que quase não vejo, do primeiro casamento com o Dr. Afonso que a traiu. Nunca confirmei.
Naquela manhã do casamento da Lili, Maria sair da casa vi. Não me cumprimentou e reto passou. Preparava os quitutes da festa quando chegou João. Estava descabelado, doutor. Respondeu que queria duas doses de pinga boa, disse que ali não tinha; não vendo. Saiu com um murro no balcão. Alterado, nunca o vi.
Onze horas quase, chega Maria em um carro branco, até a porta fui e cumprimentá-la, fiz questão. Ignorado fui. Amarelo o cabelo, de cetim preto estava vestida, muito bonita, doutor, com muito respeito. Na casa entrou. Com vidros escuros, a rua, o carro virou.
O momento do casório chegou, fechei a padaria e com o carro branco deparei. Maria sozinha de casa saiu. Descobri que o motorista era marido da Dona Olga, a cabeleireira. Estranhei. Na festa, muito bonito tudo estava, meus quitutes aprovados foram. Maria bebia feito bêbada. João chegou, rasgado, mal arrumado, despenteado. Ao vê-lo Maria desabou em lágrimas. Nada entendia, até que Olga me contou: Maria não o encontrou em casa e sozinha ao casamento foi, para curar a tristeza se embebedou. João descontou na bebida o dinheiro que Maria gastou. Mas foi ao casamento sem ver o que fazia.
Que estranho, um casal tão afável. Maria gritava e João gargalhava. Lili? Lili curtia a festa e os ignorava. Maria agarrou o marido de dona Olga e um beijo o lascou. Esperando que João armasse rolo, as costas ele simplesmente virou. Maria foi atrás e um copo de bebida em seu carro atirou e, em seguida, um tapa na cara, de Dona Olga levou.
Fui para casa, pois o final acompanhar eu queria. Maria ainda não havia chegado, mas a diarista contratada para olhar os filhos, pela rua corria. Fiquei de bituca, doutor. Chegou, de táxi, Maria. Senti que o bicho comeria. Altos os sons de tiros ouvia. Uns três. Chamei a polícia que chegou, com o resgate, de companhia.
Soube pela vizinha, que pela janela assistiu à cena, que ela pegou a arma para matar um rato que o queijo da cozinha comia. O efeito da bebida fez a perna de João ser atingida. Então pelo resgate saía.
Olha, doutor. Não sei o motivo pelo qual isso aconteceu. Um mês depois, a rotina tudo voltou. João, os pãezinhos comprou. Maria, de nariz empinado, passou. Nada perguntei, apenas observei. E a paz, aparentemente, voltou. Mas depois desse dia percebi que a aparência sempre me enganou.
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