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APARENTEMENTE DIFERENTE



Pães, bolos, massas estico e de padeiro trabalho, doutor. João e Maria são vizinhos de minha padaria. Compra pão todo dia João e comia toda manhã Maria. Aparentam sempre ser boa família. João é vendedor, renomado, ganha bem. Maria vende joias, posuda e nariz empinado. Disseram-me que tinha um filho, que quase não vejo, do primeiro casamento com o Dr. Afonso que a traiu. Nunca confirmei.


Naquela manhã do casamento da Lili, Maria sair da casa vi. Não me cumprimentou e reto passou. Preparava os quitutes da festa quando chegou João. Estava descabelado, doutor. Respondeu que queria duas doses de pinga boa, disse que ali não tinha; não vendo. Saiu com um murro no balcão. Alterado, nunca o vi.


Onze horas quase, chega Maria em um carro branco, até a porta fui e cumprimentá-la, fiz questão. Ignorado fui. Amarelo o cabelo, de cetim preto estava vestida, muito bonita, doutor, com muito respeito. Na casa entrou. Com vidros escuros, a rua, o carro virou.


O momento do casório chegou, fechei a padaria e com o carro branco deparei. Maria sozinha de casa saiu. Descobri que o motorista era marido da Dona Olga, a cabeleireira. Estranhei. Na festa, muito bonito tudo estava, meus quitutes aprovados foram. Maria bebia feito bêbada. João chegou, rasgado, mal arrumado, despenteado. Ao vê-lo Maria desabou em lágrimas. Nada entendia, até que Olga me contou: Maria não o encontrou em casa e sozinha ao casamento foi, para curar a tristeza se embebedou. João descontou na bebida o dinheiro que Maria gastou. Mas foi ao casamento sem ver o que fazia.


Que estranho, um casal tão afável. Maria gritava e João gargalhava. Lili? Lili curtia a festa e os ignorava. Maria agarrou o marido de dona Olga e um beijo o lascou. Esperando que João armasse rolo, as costas ele simplesmente virou. Maria foi atrás e um copo de bebida em seu carro atirou e, em seguida, um tapa na cara, de Dona Olga levou.


Fui para casa, pois o final acompanhar eu queria. Maria ainda não havia chegado, mas a diarista contratada para olhar os filhos, pela rua corria. Fiquei de bituca, doutor. Chegou, de táxi, Maria. Senti que o bicho comeria. Altos os sons de tiros ouvia. Uns três. Chamei a polícia que chegou, com o resgate, de companhia.

Soube pela vizinha, que pela janela assistiu à cena, que ela pegou a arma para matar um rato que o queijo da cozinha comia. O efeito da bebida fez a perna de João ser atingida. Então pelo resgate saía.


Olha, doutor. Não sei o motivo pelo qual isso aconteceu. Um mês depois, a rotina tudo voltou. João, os pãezinhos comprou. Maria, de nariz empinado, passou. Nada perguntei, apenas observei. E a paz, aparentemente, voltou. Mas depois desse dia percebi que a aparência sempre me enganou.


SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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