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NA VELOCIDADE DO BOLT

Eu não vi o Bolt correr aquela que seria a última prova de sua carreira. Eu também não vi a maioria das provas de atletismo, assim como das outras modalidades da Olimpíada Rio 2016.


Era 19 de agosto, penúltimo dia de trabalho no Estádio Olímpico e última competição na carreira do mito Usain Bolt. A prova era o revezamento 4x100, o estádio estava cheio de fãs esperando mais um ouro do homem mais rápido do mundo e seus companheiros de equipe.


Eu, assim como todos, queria ver a prova, mas não a vi. Trabalhando isolada de tudo, só soube que o “raio” passava pelo Engenhão quando os torcedores foram aos gritos. Bolt,Asafa Powell e Andre de Grasse correram e eu não vi nada. Minha vontade era pedir para algum estagiário trocar comigo, me deixar um pouquinho no piso superior, mas foi aí que lembrei que estava na escada dos atletas. E então eles passaram. Primeiro veio o time do Canadá com o De Grasse e eu já tive que me controlar com um sorrisinho de lado. Depois vieram os japoneses e nada do Bolt.


Eu já estava lá há três horas e nem sinal do time da Jamaica. Meu celular estava sem bateria, minha vontade de ir ao banheiro era imensa, a fome fazia meu estômago roncar como nos filmes, mas ainda faltavam as estrelas da noite e eu não podia deixar a posição e perder a chance de ver o homem mais rápido do mundo de pertinho.


Quase uma hora depois, ouço barulhos na escada e o coração começa a disparar; as mãos suavam mais que o normal e, então, comecei a treinar sorrisos. Sim, fiz caras e bocas para a parede. Ensaiei até o que falaria para ele. Se alguém me visse naquele momento, pensaria que eu sou louca (e devo ser mesmo). E então eles apareceram. Os quatro, juntos, Yohan Blake, Nickel Ashmeade, Asafa Powell e Usain Bolt, cansados, suados e felizes com o ouro que acabaram de ganhar.E é claro que tudo que ensaiei não serviu pra nada.


Com as pernas bambas e as mãos tremendo, abri um sorriso enquanto marcava a passagem deles por mim em minha lista. Quando levantei a cabeça, me deparei com o Bolt, à minha frente, os olhos estalados e gritando: BÚ! Só consegui dar uma gargalhada e fazer o tradicional símbolo do raio, que ele faz quando acaba a competição, e dizer: GO BOLT!


Naquele momento eu queria pular, abraçar, pedir uma foto, afinal, uma foto não faz mal a ninguém, mas eu não podia mostrar nenhuma reação. Assim que ele passou, segui atrás dele e fui ajudar meus colegas a segurar as grades para que os leões jornalistas não devorassem a pobre presa chamada Bolt, com quase dois metros de altura e de corpo atlético.


Não sei de onde surgiu tanta força em mim, penso que nem ele acreditou que eu daria conta. Uma menina alta e magra segurando uma grade para todos os jornalistas que estavam lá, é óbvio que não daria certo. Até que, em um determinado momento, após reparar na força que estávamos fazendo, ele pegou seu celular, pediu para que os repórteres esperassem e fez um “snapchat” reconhecendo nosso trabalho não só durante as provas do atletismo como durante toda a Olímpiada.


Aquele “snap”, cada vez que ele perguntava se estávamos bem nas entrevistas; os sorrisos, os choros e as gotas de suor de cada atleta fizeram com que todas as noites mal dormidas, as dores no corpo e até não ver o que acontecia no Rio de Janeiro fossem recompensadas. Acredito que posso resumir minha participação com uma das primeiras falas de Nicole Reynolds, chefe da Mixed Zone: “It’sgonnabe mental, butit’sgonnabefun”. E foi! Foi difícil, cansativo e trabalhoso, mas foi uma das melhores experiências da minha vida, pena que passou tão rápido quanto o Bolt.


SOBRE:

Pindorama é a designação de um local mítico dos povos tupis-guaranis, que seria uma terra livre dos males. Foi também o primeiro nome atribuído ao Brasil pelos índios, antes da descoberta. Por analogia, um blog de Jornalismo Cultural seria “um espaço livre dos males”, um território onde a literatura e as artes encontram um terreno fértil para frutificar. Aqui você encontra a produção dos alunos do 6º Semestre de Jornalismo da UNIFAE, que estão construindo um blog coletivo, sob coordenação da Profª. Carmem Aliende.

Os alunos foram desafiados a produzir textos literários, críticas, resenhas, matérias e perfis relacionados  ao universo cultural, em suas várias vertentes - cinema, teatro, artes plásticas, dança, música, moda, literatura, gastronomia, etc. Entre os principais objetivos da atividade estão vivenciar a construção coletiva de um blog, percebendo suas peculiaridades e possibilidades de atuação profissional; aproveitar o potencial dos alunos que já têm alguma produção autoral para trocar experiências e motivar os demais; e criar formas de interação com o público.

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